10 de novembro de 2010

Cerâmica dos Índios Caingangues foi encontrada na Fazenda do Lageado

Kaingang de Ivaí (RS). Foto: Vilaine Capellari, 1994.



Descoberta ocorrida no início de setembro de 2010 pelos pesquisadores vinculados ao Projeto Arqueologia no Câmpus é a primeira evidência material da presença dessa nação indígena em Botucatu.

“Muitas pessoas tratam as informações sobre a presença de índios na região de Botucatu como algo distante da sua realidade, exótico ou curioso. Mas os índios são seus antepassados também. Se uma pessoa dessa região não tem todos os avós, maternos e paternos vindos da Europa, se apenas um deles é brasileiro, é certo que a pessoa tem sangue indígena. Por mais que esses índios tenham sido exterminados fisicamente, eles não evaporaram. Os genes desses povos estão presentes em todos nós e as pessoas não tem essa noção. É o passado de todas as pessoas”.Astolfo Araújo (Museu de Arqueologia da USP)

Conheça um pouco sobre os Caingangues (trechos de um texto de Celso Prado):

O OCASO DE UM POVO GUERREIRO

Nos últimos anos do século XIX já não havia índios selvagens no Planalto Ocidental Paulista senão os Caingangues, contra quem as lutas tornaram-se extremamente violentas e as dadas mais sangrentas, em disputa de vasto território de 35 mil quilômetros quadrados.A dinâmica expansionista do capital não admitia oposição aos avanços da nova ordem, ou seja, o empreendimento econômico, sistematizado nas ocupações e incorporações de terras indígenas restantes a favor dos fazendeiros (café, algodão, pecuária e povoações), das empresas (ferroviária, navegação e rodoviária)e dos núcleos habitacionais. A tomada de terras Caingangues representava, portanto, a ampliação e consolidação deste espaço sócio mercantil necessário.
Em meados do mesmo século XIX outros grupos indígenas já haviam sido exterminados pelos entradistas, a serviço de José Theodoro de Souza, e dos primeiros desbravadores, não tardando Campos Novos Paulista tornar-se a principal base de apoio logístico para a conquista do Vale Paranapanema em direção ao rio Paraná.
Concluída a etapa Vale Paranapanema e opondo-se os Caingangues ao avanço das frentes de ocupação, também de Campos Novos partiram os primeiros caçadores e assassinos de índios, rumo ao Vale do Peixe, para tomar-lhes as terras e entregá-las aos empreendedores e grileiros.

A despeito da Lei da Terra (1850), o avanço branco contava com o beneplácito do governo paulista e sua flexibilidade fundamentada em ordens régias, tolerantes e liberais, a exemplo da Legalização da Guerra ao Índio e sua Escravização, pela Carta Régia de 05 de novembro de 1808, dirigida ao Governo da Província de São Paulo: ”Que não há meio algum de civilizar povos bárbaros, senão ligando-os a uma escola severa, que por alguns anos os force a deixar e esquecer-se da sua natural rudeza, e lhes faça conhecer os bens da sociedade (...). Que todo miliciano, ou qualquer morador, que segurar alguns destes índios, poderá considerá-los por quinze anos como prisioneiros de guerra, destinando-os aos serviços que mais lhes convier”.
Considerados bárbaros e rebeldes aos Aldeamentos, o recontro entre brancos e Caingangues foi mesmo bastante complicado, sempre o mais violento possível, com investidas dos pioneiros e o revide dos índios que, às vezes, atacavam antes, quando então elegidas as localidades de Campos Novos e Espírito Santo de Fortaleza, depois Bauru, por sentinelas avançadas para sediar e organizar grupos armados dirigidos contra aldeias dos Coroados. 
Houve um freamento nos ataques aos índios, desde o massacre a uma aldeia Caingangue promovido por Felicíssimo Antônio de Souza Pereira, em 1858, na região de Bauru, com repercussão na imprensa e meio político de toda província e Corte Imperial. Contudo, a despeito da veemente censura e indignação nacional, se fez prevalecer os interesses dos desbravadores interessados em proteger “localidades ocupadas por gente civilizada, laboriosa e útil ao país”, fazendo o governo da Província de São Paulo “autorizar a formação de bandeiras com todo aparato característico das similares do período colonial e com recomendações adicionais da Diretoria Geral dos Índios, sugerindo a retirada dos naturais... ‘para lugares longínquos (...) além do Paraná e neste caso destruindo os seus alojamentos para que não possam regressar a eles’ (...)“ .
No ano de 1862 grupos Caingangues são vistos nas regiões do rio Pardo, Alambari e Batalha [Bauru], e a eles dando combate o sertanista José Theodoro de Souza na região do rio Batalha. 
A rotina de conquistas e avanços em território Caingangue recomeçou em 1878, com a organização dos invasores contratando os bugreiros, ou a se valer de certos fazendeiros especializados também como bugreiros iniciados nas dadas, ou jagunços premiados por feitos assassinos (fugitivos da justiça) a favor de patrões, uns tidos por heróis da Guerra do Paraguai, portanto homens experimentados em batalhas, outros vindo dos remanescentes pioneiros outrora chefes de bandos, em Minas Gerais ou Rio de Janeiro, todos igualmente provados em atacar e matar oponentes sem lhes dar oportunidades de defesas.
Na década de 1880 recrudesce o massacre contra a população Caingangue, com avanço colonizador e das frentes de ocupação territorial, quando o Governo da Província decide abrir caminhos por entre terras indígenas; como podiam, os Caingangues revidam ataques aos brancos, numa luta bastante desigual e que os tornava mais enfraquecidos, carentes de gentes e armamentos.
Já ao final da década e do século XIX, 1898, poucos Caingangues ainda viviam nas matas, acossados pelas frentes de expansão que já conquistara grandes partes dos seus territórios diminuindo-lhes espaços para caças, pescas e coletas, além da impossibilidade de roçados quase sempre destruídos pelos atacantes. Estava em curso, através das dadas, um dos maiores etnocídios da história paulista.
O jornalista Mauricio Castelo Branco entende que “A omissão do Estado e da imprensa na época foi fatal para os Kaingang. Desde a Proclamação da República, a Igreja estava afastada do processo de pacificação. O governo, por sua vez, não havia criado mecanismos próprios para substituí-la nesta missão. E o pior: fez vistas grossas ao genocídio. Os principais jornais paulistas limitavam-se a noticiar os poucos relatos que chegavam à redação sobre ataques contra os Kaingang, ainda assim de forma resumida e evasiva. A imprensa era pautada pela visão hegemônica e eurocentrista de progresso - a base da justificativa para a carnificina”. 

(Aguarde, em breve mais informações sobre os Índios Caingangues)

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