16 de outubro de 2010

O Solitário do Cerrado

A interessante colaboração dessa semana do professor Gil Fellipe para os leitores do Blog Alô Bairro Demétria vem do seu livro “O SOLITÁRIO DO CERRADO" com um trecho da biografia e dos diários do naturalista Amaro Macedo:


Amaro Macedo nasceu em 10 de maio de 1914 em Campina Verde, Minas Gerais. Mora em Ituiutaba, no Triângulo Mineiro. Foi professor e fazendeiro e é um dos grandes naturalistas do século XX. Começou a coletar plantas em 1943 e nunca mais parou. Ele viajou, principalmente pelos cerrados, de Minas Gerais, Goiás (englobando o que é hoje Tocantins) e o norte do Brasil, tendo chegado a Belém. Coletou muitas plantas, mostrou os hábitos dos povos dos locais por onde passou, a comida, o ambiente, como eram os hotéis e pensões, os meios de transporte, o preço das coisas na época, um Brasil que quase já desapareceu. E tirava muitas fotos em todas as suas viagens. Nas várias excursões, na maioria delas como um solitário naturalista, entre 1943 e 2007, coletou 6008 espécies, a maioria delas de espécies de plantas dos cerrados. Varias plantas eram espécies novas. Botânicos famosos dedicaram várias espécies a ele.

(Foto de Luciano Esteves-2007)


EXCURSÃO À SERRA DOURADA

(texto de Amaro Macedo – diário da excursão)

Nos dias 13 e 15 de dezembro de 1951, eu e meu pai fizemos a segunda excursão à Serra Dourada. Partindo da cidade de Goiás, passamos pela fazenda “Quinta” dos sucessores de Olímpio Batista, morador do município de Ituiutaba há muitos anos. O sr. prefeito de Goiás indicou-nos um guia, Sr.Adauto, que nos acompanhou durante as duas viagens que fizemos à Serra Dourada. O Sr. Adauto, apesar de sua solicitude, pouco adiantou-nos como guia como se poderá ver adiante.

Galgamos a serra, distante uma légua da Quinta onde havia há tempos um garimpo de cristal. Seguimos pela estrada de rodagem que vai a São José de Mossâmedes até uma encruzilhada, por onde os caminhões passavam para buscar cristal. Deixamos o automóvel próximo à casa de um agregado, a uns 500 m da encosta e encetamos a subida que neste ponto é de fácil acesso.

Uma das espécies mais interessantes e muito falada de que tivemos notícias foi a "árvore do papel", por nós encontrada a primeira vez completamente florida. É uma árvore fina, enfezada, tendo a casca alva e solta; até os galhos mais finos possuem películas desta casca em camadas concêntricas. Tal espécie é a Tibouchina papyros Pohl, mencionada por St. Hilaire.

Terminada essa nossa primeira penetração nos domínios da flora da Serra Dourada, regressamos à Quinta e dessa fazenda ao povoado de Mossâmedes, situado a sete léguas da cidade de Goiás. Mossâmedes é um lugarejo com algumas casas de comércio, farmácia e pensões, tendo uma praça com uma igreja no centro. A igreja foi construída pelos índios em 1774, com paredes de terra socada e de um metro de espessura. Na reconstrução da igreja usaram tijolos na parede da frente. Fizeram também no interior uma parede abandonando assim a parte posterior que ficou entregue aos morcegos e corujas.

Pernoitamos em uma pensão que apesar de modesta serviu-nos ótima comida. O quarto de dormir, em uma casa à parte, deixou muito a desejar, pois com a forte chuva que desabou à noite fomos brindados com enormes jatos d’água, como conseqüência das goteiras encontrada no telhado. No dia 14, após o bem servido almoço, seguimos pela estrada de Goiás uma légua e por um desvio, pouco adiante, ao Retiro do Chico Pinto, nome do fazendeiro que possui, também, outras fazendas. Lá deixamos o auto e iniciamos a escalada da Serra Dourada distante do Sitio 4 km. O retireiro (aquele que, numa fazenda, ordenha o gado) explicou-nos o caminho e seguimos então por trilhos, entre cerrados ralos e campos, deixando sempre de lado as matas. A serra nesse ponto é mais elevada que naquele que escalamos no dia anterior. Por campos e cerrados, fomos subindo até galgar o cimo que aqui é formado de vasta área plana arenosa, muitas vezes entremeada de paredões de pedras empilhadas em lascas. 


O Livro "O Solitário do Cerrado" de autoria de Gil Fellipe e Maria do Carmo Duarte Macedo poderá ser encontrado no site da Editora Ateliê: www.atelie.com.br

Um comentário:

  1. Legal a matéria. Gostaria de saber onde fica esta pedra da foto? interessante que na minha cidade, Lima Duarte-MG, tem uma pedra semelhante a essa. Pra ver accesse o Blog: perobaslimaduarte.blogspot.com

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