28 de junho de 2011

Sugestão de filme: A Fita Branca



Uma vez conversei com um jovem alemão sobre a segunda Guerra mundial e os motivos da ascensão no nazismo naquele país. Estávamos em uma mesa de bar, eu me encontrava de férias no nordeste, conosco havia outros europeus dentre eles noruegueses e suíços, o clima estava descontraído até entrarmos nesta discussão. Argumentei que a culpa para todo aquele terrível massacre não caía somente nas costas da alta cúpula nazista, mas também nas costas do povo alemão. Todos ficaram calados na mesa, com exceção de mim e do jovem alemão. Obviamente o clima se tornou pesado, ninguém tomou partido de nenhum dos dois lados e a discussão se concentrava entre eu e o jovem.

Mesmo com os argumentos dele não voltei atrás no que havia dito, era a minha opinião e não estava disposto a mudá-la. O jovem então argumentou que tudo aquilo que ocorreu era encoberto pelas autoridades e pelas mentiras que eram transmitidas pelos meios de comunicação, alegava que o chamado povo ariano não poderia interceder pelo povo judeu já que não sabiam o que estava acontecendo. Aquele argumento não me convenceu. Como um povo pode assistir a fatos tão estranhos como o sumiço de comunistas, judeus e homossexuais, todos inocentes, o fim da oposição ao partido Nazista e uma Guerra que a cada dia se tornava maior. É claro que a propaganda nazista era muito bem feita, exemplo maior de todos é o filme “Olympia” de Leni Riefenstahl inegavelmente um dos maiores documentários de todos os tempos. Porém como podia ninguém saber de nada?
Uma questão sempre me deixou intrigado: Porque na Holanda a população não aceitava o nazismo imposto, tanto que todo o povo Holandês decretou greves e manifestações públicas em repúdio as atrocidades cometidas nos campos de concentração. É claro que a discussão não chegou a um consenso, mudamos de assunto e voltamos a beber.
Anos depois, acredito que o novo filme de Michel Haneke pode ser mais um argumento em que posso apoiar meu ponto de vista, “A Fita Branca” (Das Weisse Band, 2009), levanta a questão sobre a origem do que viria se tornar o anti-semitismo alemão na segunda grande guerra. O filme retrata o cotidiano de uma pequena aldeia alemã as vésperas do começo da primeira guerra, fazendo um panorama daquela sociedade, que era extremamente reprimida e que está quase sempre a beira da desgraça causada pela inveja, ódio e preconceito.
Essas reflexões começam a ocorrer a partir de um estranho acidente sofrido pelo médico da cidade, em seguida fatos estranhos como morte de pessoas, castigos e humilhações começam a ocorrer com certa freqüência, quase sempre encobertos pelos próprios cidadãos.
O filme lembra bastante A Vila do diretor indiano M. Night Shyamalan, tanto no que diz respeito ao próprio visual do filme quanto na retratação de uma sociedade dominada pelo medo. Entretanto o filme de Haneke não é ficcional como A Vila, acredito que os fatos retratados possam ter ocorrido em algum lugar da Alemanha, pois somente uma população como aquela apresentada em A Fita Branca poderia aceitar passivamente um governo como o de Adolph Hitler. Não quero generalizar de forma alguma a população alemã, acredito que nem todos aceitavam o que acontecia, mas grande parte dela era conivente e sabia o que estava acontecendo.
Além da excelente discussão o filme conta com grandes atuações como a do Pastor vivido por Burghart Klaubner de Adeus Lenin e O Leitor, assim como as performances extremamente assustadoras de todas as crianças do filme. A fotografia em preto e branco acentua o tom sinistro da trama, o negro quase sempre é intenso já o branco sempre é brilhante, representando de certa forma toda a obscuridade por trás daquela sociedade, que em primeira vista aparenta ser nobre e que guarda em seu interior uma terrível verdade.
Talvez A Fita Branca seja o melhor filme do diretor austríaco que já havia realizado ótimos filmes como Caché e Violência Gratuita (por duas vezes). Uma direção que prima pela tensão e que nos deixa angustiados do início ao fim, além de mexer em feridas que nunca cicatrizam, um filme impossível de se ficar indiferente.

Transcrito na íntegra de artigo escrito por  Bruno Marques   (meunomeebruno@bol.com.br) no site http://www.cinema10.com.br/

Saiba mais sobre o filme "A Fita Branca".

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