16 de agosto de 2011

Compaixão

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Uma das lições muito enfatizadas por meu professor Saljay Rinpoche foi que, se eu quisesse ser feliz, precisaria aprender a reconhecer e trabalhar com os fatores condicionantes que produzem reações compulsivas e ligadas às características pessoais. A essência de seu ensinamento era que qualquer fator pode ser entendido como compulsivo, já que obscurece nossa capacidade de ver as coisas como elas são, sem julgamentos. Se alguém estiver gritando conosco, por exemplo, raramente paramos para distinguir entre o puro reconhecimento "Ah, esta pessoa está levantando a voz e dizendo tais palavras" e a reação emocional "Esta pessoa é imbecil!". Em vez disso, tendemos a combinar a pura percepção e nossa reação emocional em um único pacote: "Esta pessoa está gritando comigo porque é imbecil".

Porém, se pudéssemos nos distanciar para analisar a situação sob uma perspectiva mais objetiva, poderíamos ver que a pessoa que está gritando conosco está nervosa com algo que pode não ter nada a ver conosco. Talvez ela tenha acabado de ser criticada pelo chefe e esteja com medo de ser despedida. Talvez ela tenha acabado de descobrir que alguém próximo a ela está muito doente. Ou talvez tenha discutido com um amigo ou um parceiro e não tenha conseguido dormir bem à noite. Infelizmente, a influência do condicionamento é tão forte que raramente nos lembramos de que podemos nos distanciar. E, como nossa compreensão é limitada, confundimos o pequeno recorte que conseguimos ver com toda a verdade.

Como podemos reagir adequadamente quando nossa visão é tão limitada, quando não conhecemos todos os fatos? Se aplicarmos o princípio dos tribunais norte-americanos para falar "a verdade e nada mais que a verdade" sobre nossa experiência cotidiana, teremos de reconhecer que "a verdade" é que todo mundo só quer ser feliz. A coisa verdadeiramente triste é que a maioria das pessoas busca a felicidade de maneiras que acabam sabotando todas as suas tentativas. Se pudéssemos ver toda a verdade de qualquer situação, nossa única reação seria de compaixão.

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Do livro A alegria de viver, de Yongey Mingyur Rinpoche. Pode ser comprado nos sites de diversas livrarias.

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