17 de dezembro de 2011

21º dia do Advento: Morte e Vida, Severina

Portinari: Menino

FALAM OS VIZINHOS, AMIGOS, PESSOAS QUE VIERAM COM PRESENTES ETC.

— De sua formosura
já venho dizer:
é um menino magro,
de muito peso não é,
mas tem o peso de homem,
de obra de ventre de mulher.


— De sua formosura
deixai-me que diga:
é uma criança pálida,
é uma criança franzina,
mas tem a marca de homem,
marca de humana oficina.


— Sua formosura
deixai-me que cante:
é um menino guenzo
como todos os desses mangues,
mas a máquina de homem
já bate nele, incessante.


— Sua formosura
eis aqui descrita:
é uma criança pequena,
enclenque e setemesinha,
mas as mãos que criam coisas
nas suas já se adivinha.

— De sua formosura
deixai-me que diga:
é belo como o coqueiro
que vence a areia marinha.


— De sua formosura
deixai-me que diga:
belo como o avelós
contra o Agreste de cinza.


— De sua formosura
deixai-me que diga:
belo como a palmatória
na caatinga sem saliva.


— De sua formosura
deixai-me que diga:
é tão belo como um sim
numa sala negativa.

— É tão belo como a soca
que o canavial multiplica.


— Belo porque é uma porta

abrindo-se em mais saídas.

— Belo como a última onda
que o fim do mar sempre adia.


— É tão belo como as ondas
em sua adição infinita.

— Belo porque tem do novo
a surpresa e a alegria.


— Belo como a coisa nova
na prateleira até então vazia.


— Como qualquer coisa nova
inaugurando o seu dia.


— Ou como o caderno novo
quando a gente o principia.

— E belo porque com o novo
todo o velho contagia.


— Belo porque corrompe
com sangue novo a anemia.


— Infecciona a miséria
com vida nova e sadia.


— Com oásis, o deserto,
com ventos, a calmaria.

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