Uma vez conversei com um jovem alemão sobre a segunda Guerra mundial e os motivos da ascensão no nazismo naquele país. Estávamos em uma mesa de bar, eu me encontrava de férias no nordeste, conosco havia outros europeus dentre eles noruegueses e suíços, o clima estava descontraído até entrarmos nesta discussão. Argumentei que a culpa para todo aquele terrível massacre não caía somente nas costas da alta cúpula nazista, mas também nas costas do povo alemão. Todos ficaram calados na mesa, com exceção de mim e do jovem alemão. Obviamente o clima se tornou pesado, ninguém tomou partido de nenhum dos dois lados e a discussão se concentrava entre eu e o jovem.
Uma questão sempre me deixou intrigado: Porque na Holanda a população não aceitava o nazismo imposto, tanto que todo o povo Holandês decretou greves e manifestações públicas em repúdio as atrocidades cometidas nos campos de concentração. É claro que a discussão não chegou a um consenso, mudamos de assunto e voltamos a beber.
Anos depois, acredito que o novo filme de Michel Haneke pode ser mais um argumento em que posso apoiar meu ponto de vista, “A Fita Branca” (Das Weisse Band, 2009), levanta a questão sobre a origem do que viria se tornar o anti-semitismo alemão na segunda grande guerra. O filme retrata o cotidiano de uma pequena aldeia alemã as vésperas do começo da primeira guerra, fazendo um panorama daquela sociedade, que era extremamente reprimida e que está quase sempre a beira da desgraça causada pela inveja, ódio e preconceito.
Essas reflexões começam a ocorrer a partir de um estranho acidente sofrido pelo médico da cidade, em seguida fatos estranhos como morte de pessoas, castigos e humilhações começam a ocorrer com certa freqüência, quase sempre encobertos pelos próprios cidadãos.
O filme lembra bastante A Vila do diretor indiano M. Night Shyamalan, tanto no que diz respeito ao próprio visual do filme quanto na retratação de uma sociedade dominada pelo medo. Entretanto o filme de Haneke não é ficcional como A Vila, acredito que os fatos retratados possam ter ocorrido em algum lugar da Alemanha, pois somente uma população como aquela apresentada em A Fita Branca poderia aceitar passivamente um governo como o de Adolph Hitler. Não quero generalizar de forma alguma a população alemã, acredito que nem todos aceitavam o que acontecia, mas grande parte dela era conivente e sabia o que estava acontecendo.
Além da excelente discussão o filme conta com grandes atuações como a do Pastor vivido por Burghart Klaubner de Adeus Lenin e O Leitor, assim como as performances extremamente assustadoras de todas as crianças do filme. A fotografia em preto e branco acentua o tom sinistro da trama, o negro quase sempre é intenso já o branco sempre é brilhante, representando de certa forma toda a obscuridade por trás daquela sociedade, que em primeira vista aparenta ser nobre e que guarda em seu interior uma terrível verdade.
Talvez A Fita Branca
Transcrito na íntegra de artigo escrito por Bruno Marques (meunomeebruno@bol.com.br) no site http://www.cinema10.com.br/
Saiba mais sobre o filme "A Fita Branca".
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