7 de fevereiro de 2013

Uso de defensivos e a saúde humana



Dr Angelo Zanaga Trapé
Unicamp, Faculdade de Ciências Médicas, Departamento de Medicina Preventiva e Social
Introdução:
O uso dos agrotóxicos em todo o mundo tem gerado inúmeros impactos negativos tanto para o meio ambiente como para a saúde humana. As estimativas feitas pelas agências internacionais de saúde são extremamente preocupantes,
indicando não só problemas de intoxicações agudas determinadas pelo contato direto com produtos altamente tóxicos e de consequências imediatas podendo levar o indivíduo à morte, mas também e principalmente problemas crônicos
determinados pelo contato tanto direto como indireto a produtos muitas vezes de baixa toxicidade aguda e por tempo prolongado.
Esta abordagem se apresenta mais adequada para o atual estágio de uso dos agrotóxicos, ou seja, ao lado das intoxicações clássicas agudas, descritas nos compêndios médicos, visualizaremos os efeitos adversos, ou as doenças relacionadas aos agrotóxicos, que podem ser originadas de uma intoxicação
aguda, ou ser resultante do contato e exposição de longo prazo aos vários produtos à disposição da população, seja ela urbana ou rural.
O Brasil, por suas características de país com grande produção agrícola e com pequena estrutura social para controle desta situação, tem apresentado dados de contaminação da população rural e urbana por agrotóxicos que indicam uma alta gravidade da situação do ponto de vista da saúde pública.
Epidemiologia das doenças relacionadas aos agrotóxicos:
 O risco determinado pelos agrotóxicos ou a probabilidade de um indivíduo adoecer pela ação destes produtos é dado pela exposição que a pessoa tem a eles e a toxicidade dos produtos. Assim se há uma alta exposição, mesmo que o produto tenha baixa toxicidade, o risco é alto, como ao inverso com baixa
exposição e alta toxicidade, o risco se mantém alto.
A questão da toxicidade não se resume, infelizmente, a ser alta ou baixa, mas a problemas toxicológicos que diversos agrotóxicos possuem, mesmo considerados de baixa toxicidade, pois esta referência é somente para problemas agudos, imediatos.
Portanto, se há problemas ou de exposição ou de toxicidade do veneno, a probabilidade de adoecer é grande.
Segundo as estatísticas oficiais do Ministério da Saúde pelo Sintox (Sistema Nacional de Informações Tóxicofarmacológicas), para o ano de 1998, foram 5.914 casos de intoxicação por agrotóxicos no país. Destes casos notificados, que se sabe haver um imenso sub-registro, metade deles ocorreu na zona urbana,
indicando que esta problemática não se atém ao setor agropecuário e tampouco ao trabalhador rural isoladamente, mas sim uma questão de saúde pública.
Grupos populacionais com exposição a agrotóxicos:
Vários grupos populacionais podem ter contato e exposição aos agrotóxicos e apresentar efeitos adversos à saúde.

1)Profissionais:
trabalhadores nas industrias formuladoras e de síntese;
trabalhadores de transporte e comércio;
trabalhadores de firmas desinsetizadoras;
trabalhadores da saúde pública;
trabalhadores da agropecuária.

2)População em geral:
acidentes;
resíduos em água;
resíduos em alimentos;
campanhas de saúde pública;
uso domiciliar.

Em relação aos alimentos, apesar de não haver do ponto de vista de saúde pública nenhuma situação de alarme com níveis altos de resíduos detectáveis nos principais produtos alimentares que compõem a cesta básica da população; pelo fato de não haver nenhum monitoramento sistematizado de
alimentos no país e alguns estudos pontuais mostrarem contaminações diversas, isso indica uma situação preocupante que exigiria uma ação técnica mais concreta.

Principais agrotóxicos de importância em saúde pública:
inseticidas organofosforados;
organoclorados;
piretróides;
fungicidas ditiocarbamatos;
herbicidas fenoxiacéticos;
dipiridílicos;
fumigantes brometo de metila;
fosfeto de alumínio.

Todos esses agrotóxicos podem e determinam intoxicações agudas, efeitos adversos crônicos e doenças de diversas naturezas e muitas vezes levam o indivíduo contaminado à morte seja de forma abrupta (agudos) ou insidiosa (crônicos).
É fundamental que se desenvolvam ações técnicas nas áreas de saúde, educação e principalmente agricultura no sentido de diminuir o forte impacto que esta tecnologia, que veio para beneficiar a humanidade, vem exercendo
na saúde pública e no meio ambiente.

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