10 de maio de 2015

O desenrolar da Agroecologia - de dentro pra fora.

Pintura por Gildásio Jardim Barbosa
“... para se fazer agricultura ecológica
há de se ter memória e história.”
Sebastião Pinheiro 

Historicamente, a agroecologia surge de movimentos que desde a década de 70 vem levantando a bandeira das ditas ‘Agriculturas Sustentáveis’, fazendo contraponto a um modelo de agricultura que vinha sendo imposto pela famosa Revolução Verde - baseada na mecanização, insumos químicos e na padronização do processo produtivo, uma industrialização e desumanização da agricultura e do campo.

Hoje, para além de uma nova ciência, a agroecologia é um movimento social e está apoiada em seis pilares, sendo eles o político, ético, econômico, ecológico, social e cultural. Busca-se o equilíbrio entre estes pilares de forma que todos tenham a mesma importância.

 Embasada na visão holística e na problematização crítica da realidade sócio-ambiental e articulada a nível nacional de forma descentralizada, a agroecologia visa a superação dos atuais paradigmas da produção agrícola, das relações econômicas, de trabalho e das relações do homem para com a natureza e para com ele mesmo, propondo novos meios de se relacionar, produzir, comercializar e educar de forma sustentável.

É importante entender que, no Brasil, a agroecologia enquanto ciência ainda é recente e que, quando inserida no contexto institucional, estará submetida aos processos burocráticos, às relações humanas que se darão e às diferentes concepções que podem ter, sejam políticas ou existenciais. A formação acadêmica, que envolve a agricultura, tem tido na história um viés estritamente técnico e especializado, focando no ‘produtivismo científico’ reducionista em detrimento de uma geração de conhecimento que valorize a demanda e a sabedoria do povo.

Há de se ter bem clara a história da agricultura e das relações sociais no mundo para se enxergar no todo e construir a agroecologia. Pois na complexidade das relações agrícolas e agrárias do Brasil, onde as tradições locais são cada vez mais corrompidas pela globalização capitalista e onde a terra - o solo sagrado dos povos originários - se tornou mera mercadoria nas mãos de quem conduz desde sempre o agronegócio ”brasileiro”, há uma completa inversão de valores: o empresário é chamado de agricultor e a agricultura é entendida quase que estritamente como a produção de commodities para gerar divisas. Já o camponês e a camponesa, que estão no dia-a-dia de labuta com a enxada na mão, conservando a biodiversidade em forma de sementes e que produzem o alimento ao suor de seu próprio sacrifício, são desvalorizados pelas políticas e relações sociais. Sequelas de um Brasil colônia.

Com isso, dentro de sua complexidade e diversidade de atores, o movimento agroecológico se insere na construção de políticas públicas que valorizem o agricultor(a) familiar, comunidades tradicionais, suas culturas, seus direitos e a Terra como um todo, bem como atua na base promovendo e praticando uma agricultura que respeita a saúde do solo, das plantas, dos animais e dos seres humanos. Atua rumo à transição para uma sociedade agroecológica, nos mais diferentes espaços da estrutura atual em que vivemos e entende que a principal transição está dentro de cada indivíduo.

Partindo de nossa intenção, nas nossas escolhas e atitudes, na relação com a nossa própria saúde, na mudança de hábitos, na desconstrução de padrões e condicionamentos e com a quebra dos tabus que oprimem a liberdade individual, poderemos avançar rumo a um novo paradigma social que resgata e honra os conhecimentos ancestrais unindo-os às práticas e conhecimentos da ciência, sem renegar a tecnologia e tampouco a espiritualidade. Há de se resgatar o valor do silêncio e do olhar sutil perdido dentro de nós.

Marcelo Gomes


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