Estamos no
final das deliciosas e tradicionais festas do milho da região. Além das
delícias gastronômicas, essas festas evocam nossa cultura caipira, tão rica e
importante e também as tradições religiosas e a vida em comunidade.
Mas, será
que todos repararam no sabor das pamonhas, dos curaus, do milho verde com
manteiga? Saborosos como nos anos anteriores? Um pouquinho diferente, talvez?
Se não foi
perceptível no sabor, a diferença foi bem acentuada para o meio ambiente da
nossa região, nos campos onde, pelo menos uma parte desses milhos foi cultivada.
Isso porque,
desde 2007 existem no mercado sementes de milho chamadas de transgênicas, isto
é, sementes geneticamente modificadas em laboratórios para serem tolerantes a
herbicidas. Ou ainda sementes com a tecnologia Bt, no qual foram introduzidos
genes específicos de uma bactéria de solo que fazem com que a planta produza
uma proteína tóxica para alguns grupos de insetos, para que a planta resista ao
ataque de lagartas.
O agricultor que
planta o milho transgênico adquire o agrotóxico e as sementes de uma mesma
empresa e ainda paga royalties pelo uso das mesmas. De
acordo com a propaganda, os transgênicos trariam aos agricultores maior
produtividade. Porém isso nem sempre acontece...
O que se observa ao longo destes anos
é que os insetos que normalmente atacam a cultura e as plantas invasoras adquirem
resistência e então é necessário o uso de quantidades cada vez maiores de
inseticidas e herbicidas. E normalmente o agricultor tem perda de parte da colheita.
O uso
desses agroquímicos (inseticidas, herbicidas, etc.) causa cada vez maiores
impactos à saúde humana e ambiental. Por exemplo, está para ser liberado no
mercado um herbicida que tem como princípio ativo o “2,4 D”, também conhecido
como “agente laranja”. Este produto foi utilizado pelos EUA na guerra do Vietnã
para desfolhar as florestas tropicais daquele país, revelando a localização dos
soldados inimigos que lá estavam escondidos. O “2,4D”, quase uma arma de
guerra, em breve chegará às nossas mesas, através da soja e do milho geneticamente
modificados.
O Brasil vem
registrando um aumento expressivo no uso de veneno para lavoura, também
chamados de “defensivos agrícolas”, e já somos o maior consumidor mundial desses
produtos. O mercado brasileiro gera com isso, bilhões de dólares de lucro para
as multinacionais do setor de agroquímicos, enquanto ficamos com o prejuízo da
contaminação progressiva de trabalhadores rurais, de animais silvestres, dos nossos
solos, rios, córregos, peixes, entre outros. Estudos já apontam a contaminação
até das águas subterrâneas, como é o caso do Aquífero Guarani, presente na
nossa região e um dos maiores reservatórios de água doce subterrânea do mundo. Enquanto
as multinacionais do agroquímico se beneficiam com a venda desses produtos, o prejuízo
é dividido entre todos os cidadãos brasileiros.
Mas, voltando
ao nosso assunto inicial, a comercialização das sementes dos milhos
transgênicos foi aprovada pela Comissão Nacional de Biossegurança / CTNBio, um
órgão do Governo Federal. Imagina-se, dessa forma que a aprovação oficial fosse
baseada em estudos científicos consistentes que garantissem a segurança
ambiental e da população.
Mas, na verdade, os testes de
avaliação que a CTNBio utiliza para aprovar um produto são, principalmente, análises
técnicas dos aspectos agronômicos, por exemplo, avaliam a adaptação das sementes
a um determinado ambiente, avaliam o aumento da produtividade, etc..
Já os testes para avaliação dos
impactos de transgênicos ou OGMs (Organismos Geneticamente Modificados) na
saúde humana e no ambiente (fauna, água,solo, etc.) além de pouco considerados,
apresentam outro aspecto bastante preocupante: o prazo. A CTNBio considera
válidos dados de ensaios técnicos feitos em prazos curtos, com avaliações de, no
máximo, 45 dias.
Agora
vejam: no ano passado, pesquisadores franceses divulgaram o resultado
bombástico, de uma pesquisa bastante simples. Os cientistas alimentaram ratos
de laboratório com milho transgênico por 2 anos. Depois de cinquenta dias
começaram a aparecer mal - formações e muitas mortes. Houve crescimento
excessivo das glândulas mamárias, problemas nos rins e fígado. Aqui no Brasil,
esse mesmo milho é, no entanto, comercializado livremente e consumido pela
população, talvez até para preparar a pamonha e o curau das nossas tradicionais
festas do milho.
Muitos produtores de grãos do Brasil
já perceberam que plantar milho e soja transgênicos nem sempre é um bom
negócio. A Associação
Brasileira dos Produtores de Grãos Não Geneticamente Modificados (Brazilian
Association of Non Genetically Modified Grain Producers)/ ABRANGE); que tem como associados
grandes empresas como o Grupo André Maggi, a Brejeiro, a Caramuru Alimentos
S/A; vem ampliando sua produção e exportação de grãos já que a China, Rússia e vários
países da Europa proíbem a entrada de soja e milho transgênicos. O mercado
mundial tem uma demanda crescente por produtos não transgênicos e os preços
pagos são significativamente maiores do que o valor dos grãos transgênicos.
Hoje em
dia, o produtor rural que optar por plantar o bom e velho milho crioulo - não
transgênico e não híbrido - tem muita dificuldade em encontrar sementes. O
milho cateto, o milho cunha, milho palha roxa, e tantos outros que os
agricultores da região conhecem bem, estão desaparecendo, pois as sementes
estão acabando. Pelo menos aqui em São
Paulo contamos o bom trabalho do Departamento de Sementes, Mudas
e Matrizes da CATI, da Secretaria
Estadual de Agricultura produzindo variedades de milho não transgênicos
adaptados ao nosso clima. Mas, mesmo se o produtor conseguir estas sementes
corre o risco de ter sua plantação contaminada pelo milho transgênico que um
vizinho plantou, já que o pólen do milho se espalha pelo vento. A CTNBio diz
que apenas 100 m de borda de proteção é suficiente para milhos diferentes não
se contaminarem. Imagine com os ventos aqui em Botucatu ...
Então, já
temos uma suspeita sobre a diferença do sabor dos quitutes da festa do milho.
É por
estas e outras que, esses novos modelos de produção de grãos como o milho, a
soja e o feijão e quaisquer outros organismos geneticamente modificados devem ser repensados com muita cautela e responsabilidade.
Dr. Pedro Jovchelevich
pedro.jov@biodinamica.org.br
Engenheiro Agrônomo – Coordenador da Associação
Biodinâmica de Botucatu
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