6 de novembro de 2010

Não à pasteurização da política!

Como já escrevi aqui no Blog, política, como ensina André Comte-Sponville, supõe conflitos: “A política nos reúne nos opondo: ela nos opõe sobre a melhor maneira de nos reunir”.
Para que a política seja um saudável e democrático instrumento de desenvolvimento social ela deverá preservar a sua dimensão conflitual e nesse contexto, a radicalidade, ao contrário do que alguns professam, é importantíssima como catalisador de mudanças e evolução social.

Neste ensaio sobre Cavaco Silva o ensaísta aborda os desastrosos reflexos para Portugal do recorrente posicionamento "conciliador" desse político.
Lendo-o, percebi ter sido ele o mesmo embora com outras roupagens, que foi muito usado  por alguns "centristas" brasileiros no debate das últimas eleições. 
Vejam aqui um trecho do mesmo (os grifos em azul são meus):

Há, aliás, duas frases que retive na memória, da autoria de Cavaco Silva, que caracterizam bastante bem o político completamente previsível que ele é.

Uma delas foi proferida em 2005, tornou-se famosa e diz o seguinte: "Pessoas inteligentes, com a mesma informação, chegam às mesmas conclusões."
Quem tenha alguns conhecimentos de história, seja do país ou do mundo, seja das ideias ou dos factos políticos, sabe perfeitamente que tal afirmação não é verdadeira. Porque, regra geral, pessoas inteligentes, com princípios, ideias e opções políticas distintas, chegam a conclusões diferentes, mesmo quando possuem a mesma informação. É isso, aliás, que está na base dos sistemas democráticos, pluralistas e pluripartidários.Mas a frase proferida por Cavaco Silva há cinco anos é característica do discurso político dominante nos diversos partidos que alternam no poder em quase todas as democracias ocidentais. É uma frase que traduz aquilo que alguns já designam como "o fim da política".

Para políticos que dizem situar-se rigorosamente ao centro, como é o caso de Cavaco Silva, a política na sua dimensão conflitual é considerada como algo pertencente ao passado. O tipo de democracia que recomendam é uma democracia consensual, totalmente despolitizada, não partidarizada, sem confronto entre adversários, submetida aos princípios tecnocráticos e burocráticos implícitos naquilo que os banqueiros, gestores e empresários "modernos" designam por "boa governança", seja lá isso o que for
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